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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Hoje Nāo Estamos. Ontem Também Nāo. Amanhā Nāo Sabemos.


Aquele dia em que se entra no centro de saúde e rebenta a bolha. Acabou. Deixamos de pensar.

Para trás outras vezes, muitas. Antes de ir já tenho de respirar fundo e meditar. Nada funciona. Um sistema de senhas, ou nāo, quatro. Afinal quatro. As indicações coladas a fita cola, várias. Muitas. Leitura intensa. Nada rápida. Tanta informaçāo. Sempre nova. Sempre diferente. Afinal qual é a senha hoje? Nāo é. Só de vez em quando. De quando em vez se nāo der muito trabalho. Sempre a mesma implicaçāo:
Nāo tem marcaçāo? Pois!
Nāo. Nem sempre é possível marcar. Aliás, sempre que marco arrependo-me. Em geral, arrependo-me de lá ir.
Supostamente, a lei, a regra, o sistema prevê o atendimento com base nas marcações dando-lhes prioridade mas prevê também o atendimento por ordem de chegada, naturalmente. Pois… Prevê. Como um plano que se imagina mas depois nunca se cumpre. Já foram três as vezes que vim mandada para trás, por recusa das recepcionistas. A sala podia até estar cheia e compreenderia, nāo estava. Nenhuma das vezes.
Da última vez cheguei e o andar estava em obras. Mudaram de piso. Mais um papel colado meio torto na frente da porta do elevador. Estavam portanto no novo 1' piso. Estar estavam. A porta do elevador abre-se novamente. O primeiro piso estava no lugar, nāo tinha ido de férias. Nos braços, sempre a Amália pequenina. Na parede mais uns recados, outros, imensos, sempre colados:

"Hoje atendimento só por marcaçāo".
Ui!!!! As máquinas das senhas vazias.
A sala com uma pessoa apenas à espera. Mais uma vez em vāo. Junto do balcāo pergunto:
"Desculpe, mas porque é que hoje, mais uma vez, nāo posso tirar senha e ser atendida por ordem de chegada e, sim, dando prioridade às marcações como é suposto?"
"Pois nāo, nāo pode. Estamos em obras."
"Nāo percebo. Nāo estāo em obras para quem tem marcaçāo?"
"Nāo."
"Sendo assim… Nāo compreendo. Repare: está apenas uma pessoa na sala de espera. Nāo posso dar vacinas à minha filha porquê?"
"Porque nāo fez marcaçāo."
"Mas eu nāo sou obrigada a fazer marcaçāo."
"Pois. Mas estamos em obras e só vacinamos hoje quem tiver marcaçāo"
Fervi.
Se fosse maluca agarrava no telefone e ligava a marcar para aqueles 5 minutos seguintes.
Como nāo sou, limitei-me a ficar incrédula e a escrever no livro de reclamações.
Fui-me embora em revolta absoluta.
Esta foi a vez passada… Cheguei até a ponderar mudar de sítio para as vacinas.

Agora, outra vez, mais uma vez:
Sempre uma regra nova, acabada de criar. Se nāo estāo a mudar de piso, estāo com horários novos. Ou entāo simplesmente nāo estāo para nada que dê trabalho ou que conte com a boa vontade. Chateia-me. Chateia-me porque o enfermeiro, que a maioria das vezes lá está, é um amor de pessoa e nem sempre o serviço lhe permite fazer melhor. Rodeado de caras carrancudas que gostavam de fazer qualquer coisa menos estar ali, o enfermeiro, aquele, esse que falo, faz o que gosta. Dá o seu melhor. Sempre. De Inverno ou Verāo. Faça chuva, faça frio. O problema é que… Para chegar a ele é preciso passar por quem se delicia a criar novos horários, colar recados nas paredes e se diverte a dificultar a vida das pessoas.
Pessoa para quem é uma afronta, uma ousadia, alguém aparecer sem marcar. Atender utentes que aparecem para vacinar os filhos, imagine-se lá… Sem telefonar. Pais que ainda por cima levam consigo a vacina. Comprada por eles mesmos na farmácia. Vacinas nāo comparticipadas. Aquelas que só salvam quem pode pagar um bocadinho mais. Enfim… Parece ser uma verdadeira loucura permitir ter acesso e direito à saúde a várias horas, de uma forma simples e imagine-se, incluindo a hora de almoço… Nāo, afinal nāo, agora a porta também se fecha para almoço. Mas agora, apenas este mês. Das últimas vezes, ainda no mês passado, nāo fechavam para almoço.
Agora sim. Espere lá… Como é para si… deixe lá ver… Hoje nāo estamos a mudar de piso… Hoje nāo estamos cheios de gente, hoje nāo estamos… Olhe faça assim: Hoje nāo estamos. Faça de conta.
Ah, talvez seja isso: hoje nāo estamos. Nem hoje nem nunca.

Enfim, um desabafo. Valham-nos os profissionais que amam o que fazem.
Desta vez nāo saí de lá sem vacinar a Amália. Nāo menos irritada, mas nāo, chega. Agradeço ao enfermeiro do costume. O mesmo, sempre o único. Gosto dele. Gosta do que faz.

Em Londres, sempre que fui a um centro de saúde tive apenas de chegar e esperar na fila.
Imagine-se que até me perguntavam quando chegava:
"Como posso ajudar?"
Explicava, sentava-me e esperava.
Imagine-se, uma loucura.

2 comentários:

  1. Infelizmente nem todos os centros de saúde são unidades de saúde familiares, que funcionam que é um espectáculo. Do meu, só posso dizer maravilhas, não só do médico de família, da enfermeira e de todo o pessoal administrativo, que é 5 estrelas. Marcações do dia, sempre, todos os dias, se não for com o meu medido, com outro, e nunca me faltaram nem a mim nem aos meus filhos. Nunca espero mais de 15 minutos de atraso, mas a maioria das vezes é à hora marcada. Só posso dizer bem e tenho muita pena que nem todos os portugueses tenham o mesmo atendimento nos centros de saúde, afinal não devia haver diferenças. Mas espero que em breve todos os centro de saúde sejam USF, que respondem eficazmente a todos os utentes.

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  2. Obrigada pelo comentário, este texto foi um desabafo depois de um dia difícil e após sair tantas vezes enervada daquele lugar. Apesar disso, como disse no texto, há lá pelo menos um enfermeiro que merece todo o meu carinho e atençāo. Pena que nāo seja em geral o meu sentimento em relaçāo àquele lugar. Quem sabe vai melhorar. Há-de melhorar.

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