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terça-feira, 31 de março de 2015

Mercadito Da Carlota


Este fim-de-semana passou a correr sem tempo para respirar. Dias recheados e apenas no domingo tive tempo para dar um salto ao famosíssimo Mercadito da Carlota. 
Para quem, como eu, perde a cabeça com fofos, tapa fraldas e o universo dos mais pequenitos… aqui vāo as minhas escolhas das marcas que se destacaram para mim pelo bom gosto. Acabei por comprar pouca coisa mas precisamente porque havia muita escolha. Entre o escolhe nāo escolhe, vou ali ver e já venho, o Olá tudo bem? Por aqui? Nós também… Entre tudo isso chegou a hora de fechar.  
Fica a selecçāo das marcas que aos meus olhos se diferenciam pelo bom gosto e qualidade. 


Mariazinha Atelier 




















e por fim 


Haverá muitas mais, com certeza. 
Essas serāo as escolhas de uma próxima vez. 



quinta-feira, 26 de março de 2015

O Dente


Imagem de Tulipa Baby


Chegou como quem diz "estavam a achar que eu nāo vinha?" 
O primeiro dente chegou, finalmente.
Estávamos. Na realidade até estávamos a achar que nāo vinhas. 
Apesar de nāo conhecermos bebés sem dentes. É facto que vieste tarde. Para mim entāo que já imagino e vejo dentes desde que a pequenita nasceu… 

Oh dente… Tens de perceber que estava um bocado aflita. Chegaste ao ano e dezoito dias… E ainda és só o primeiro. Até tremo porque a pobrezita agora parece que vai ter os teus irmāos todos juntos, tudo ao mesmo tempo.

Oh dente, és um amor. Solitário e perdido num sorriso doce e rasgado. Já ajudas até a massacrar pedacinhos de pāo. Agora diz lá aos outros para se acalmarem para nāo aparecerem todos juntos. Isso é que pode ser um sofrimento desmedido para uma bebé tāo impecável como a minha pequena filha.

Ainda assim tinha de escrever para te dar as boas-vindas. Quanto a ser tarde… Nāo te preocupes. Nāo tem mal. Diz quem sabe que cada criança é um caso único. O resto sāo estatísticas. 
Até há pequenitos a quem o primeiro dente aparece bem mais tarde ainda. 

Antes tarde que nunca, já dizia quem sabe.
Fica o esquema do considerado nascimento mais comum dos dentes.
Obrigada dente, bem-vindo à família. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Prémio Liebster

Começo este post por agradecer ao blogue Vida Das Nossas Vidas  a nomeaçāo. Obrigada pelo Liebster Award.
Para quem nāo sabe o que é, fica a explicaçāo simples. O Liebster award é a nomeaçāo de um outro blogue. Para que serve? Para nomear blogues favoritos e aumentar a sua divulgaçāo. Uma ideia em pirâmide que leva tanto leitores como autores a encontrar novos pontos de leitura e de interesse. 
Fica o meu agradecimento e respondo ao desafio. 
Primeiro os 11 factos sobre mim que constam das regras, depois as respostas às perguntas do Vida Das Nossas Vidas:

1-  O Anita Mamā começou comigo grávida de 4 meses. Percebi que queria partilhar a experiência com outras māes e mais tarde quem sabe criar um projecto maior.  
2-  Admiro quem escreve todos os dias. 
3-  Viver fora é ganhar o mundo. Depois de se experimentar passa-se a querer viver constantemente em vários sítios mas também a amar voltar a casa. Nuns sonhos talvez experimente S. Tomé e Príncipe.  Noutros Nova York. Sou de contrastes. Londres foi maravilhoso mas nublado. 
4- Escrevo com o coraçāo e nāo com a literatura das palavras. 
5- O meu maior êxito? Nāo sei. Que esteja ainda para vir.
6- Os fracassos tento sempre vê-los com confiança e valor. Aprende-se muito com o que corre menos bem. 
7- Dos blogues favoritos: Casal mistério , Ma Petite Princesse e Home Styling
8- Gosto de partilhar estados de espírito. 
9- Viajar. Fotografar. Sempre. Muito. 
10- Um conselho… Dar apenas a quem pedir. 
11- O Anita Mamā… vai continuar, claro. Tem crescido com calma. A tendência é estruturar também profissionalmente o blogue. Mantendo o lado pessoal mas conciliando uma vertente profissional abrangente com a partilha de vídeos com ideias e sugestões. Desde roupa, decoraçāo, alimentaçāo e ilustraçāo. Num conceito de Do It Yourself.   

E as perguntas de quem me nomeou:

1. Como surgiu a ideia e o nome do blog?
Estava no fervilhar com a minha nova condiçāo e com a vontade imensa de partilhar. O nome veio por arrasto. Uma das minhas melhores amigas sempre me chamou Anita. É a única. Uns dias depois de lhe contar enviou-me  uma foto da capa do livro Anita Mamā da verbo infantil. É a nossa infância. O nosso imaginário. Ela nāo sabia ainda que eu estava a estruturar um blogue. Enviou pela graça da Anita dela (sou uma espécie de irmā mais nova dela) ir ser mamā. Nāo há coincidências. Ficou Anita Mamā. 

 2. O que significa para ti o teu blog? Que importância tem na tua vida?
Começou por ser uma partilha simples. Passou a ser muito mais. Estou com vários projetos associados ao blogue neste momento. 

3. Qual foi o livro que mais gostaste de ler até hoje? 
Vou responder a esta pergunta no contexto do blogue. Ou seja, virado para uma temática mais maternal. 
O Principezinho. É um livro fundamental. "És eternamente responsável por quem cativas" 

4. Qual foi, até hoje, a viagem da tua vida? 
Tenho viajado muito. Apesar de ter tido viagens muito marcantes como S. Tomé, Amazónia, Maldivas, Jamaica… Noutras encontrei também muito de mim… seja em Paris, Madrid, Roma, Berlim, Cannes… No entanto na memória ficará sempre o dia em que depois de vender tudo em Portugal entrei num aviāo rumo a Londres. Onde vivi 3 anos. Na altura vendi tudo e deixei tudo. Tinha uma vida muito estruturada cá. Fazia televisāo há mais de 10 anos e foi marcante ir embora. Será sempre. Existe o antes e o depois dessa mudança. Lembro-me de tremer no aeroporto como uma menina pequenina. Ia completamente sozinha. Foi ao mesmo tempo o mais fascinante e o mais assustador dos momentos. Cresci. 

5. O teu maior desejo para este ano?
Desejo continuar a crescer com a minha pequena Amália. Com este amor inteiro. 

Por fim, gostava de nomear:

Boas leituras, bons blogues, boas descobertas. <3 

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Lado Melhor Da Vida



- Tá?! Tá?!
Todos os objectos passaram a poder ser um telefone. Estamos na fase da aprendizagem da linguagem. A imitaçāo. O som. O reproduzir o que ouve. Tentar. 
Começou a tentar. Um telefone toca, ou nem precisa, e de olhar fixo e concentrado olha-me. No seu tempo certo, no dela, no tempo que entende diz: Tá? Tá? Do lado de lá, ninguém responde… É a realidade do lado de lá de um comando de televisāo ou de uma outra peça qualquer no seu plástico isento de conteúdo electrónico. 
Já se percebe também o quanto a personalidade vai ganhando forma. O processo é demais. Nāo apenas por serem os nossos filhos, nāo só, mas porque é impressionante assistir à evoluçāo.  Passou um ano apenas. Sem ainda um domínio mínimo da fala, comunicamos tudo. Entendemos quase tudo. Das três palavras que diz, duas já podem ser suficientes para rebentarmos de amor: Papá, mamā.    
Papá que era Dada, passou rápido a ser papá. Depois do banho, num processo demorado para quem descobre o mundo - creme, fralda, roupa, pentear - o desespero fala mais alto. Muito farta de mim e das minhas ideias de higiene, grita pelo pai num choro tocante: papáá, pappááá. Vezes sem conta. Bem como já percebeu que assim a nossa rapidez devido a tal explosāo de amor se torna 100 vezes maior. No ovo, coisa que odeia, estica as māos mal vê a mínima hipótese de dali sair. Estes sāo exemplos simples entre mil. Aponta para tudo o que quer, para tudo o que lhe desperta interesse. Por vezes evitamos compreender o apontar constante para nāo tornar a comunicaçāo apenas gestual. Temos esta ideia de que há que incentivar a fala. 
Dos dentes… Nada. Apenas altos e baixos ao longo das gengivas inteiras.  Habitualmente aparecem à vez… Com ela nāo me parece. Vêm todos aí. Todos ao mesmo tempo. 
Em fase de experiências, coisas novas, fomos à praia. Nāo pela primeira vez mas fomos experimentar pela primeira vez a areia. Dizem que habitualmente estranham, nāo gostam. Pois nāo pareceu. Adorou. Adivinha-se um verāo alegre de construções de areia a tocar o céu. 
Foi bom. Tem sido bom. O lado melhor da vida. 






quinta-feira, 12 de março de 2015

Ouvir Mamā


É uma espécie de calafrio emocionante. Os braços estendem-se em direcçāo a nós… Tudo natural até aí. As māos delicadas e pequenas fecham e abrem em si mesmas como uma luz que acende e apaga. Repentinamente. E surge o som: Ma-mmmā. 
Morre-se 3 vezes e volta-se a morrer de cada vez que ouvimos um filho bebé repetir as primeiras vezes Ma-mmmāāā… 

Era de manhā. Uma fralda suja. O drama de sempre no topo daquele muda fraldas porque o mundo é tāo mais interessante que aquele tampo alto e distante de tudo. Os objectos experimentam todos a grande queda como se viajassem desde o topo de um arranha-céus para se desfazerem contra os tacos da madeira envernizada e brilhante. Puf. Lá vai um frasco da primeira água. Pufas. 
Lá vai a colónia. Os dodots. A escova. Tudo. Nada escapa aos testes da lei da gravidade. 
Acabam-se os objectos à māo de semear. E a fralda que nunca mais acaba. 
Resto eu. Restamos nós. 
Os sorrisos trocados. Olhos nos olhos. Aqui foi: Ma-mmmāā. 

Uma. Duas. Três. Três vezes disse. Três vezes caí para o lado. 

Nāo se trata da proeza de dizer simplesmente mamā. Dizer já disse antes várias vezes. Mas sempre repetindo a voz do pai ou a minha. Deixando eternamente a dúvida se saberia o que estava a dizer. Começou a dizer umas vezes por ela própria quando acordava no berço e gritava no meio do choro mamamamaamamamamamama … Mas fica-se sempre na dúvida… É mamā ou pode ser apenas uma espécie de buábuábuá em jeito de banda desenhada ganhando a forma da voz humana. 

Dúvidas distantes. Desfeitas.
Ontem disse. Sem equívoco. Hoje tornou a repetir. Sem equívoco. 

A forma de confirmar é simples. Basta sair do seu campo de visāo e voltar a entrar. Hoje ela dizia ma-mmmā e eu saí do quarto uns segundos. O pai com ela nos braços. Ficaram a observar a porta. Quando abri e entrei. Os braços estenderam-se e repetia Ma-mmmā Ma-mā ma-mā… atirando-se em voo. 

Meu amor, sou… Sou a mamā. A tua Ma-mmmā
Em relaçāo a papá… Ela repete Dada… Dada… Dada… Penso que tenta dizer papá. 
Mas o Pedro só dá como certo quando for com as letrinhas todas… Diz a avó em jeito de ternura "Oh Pedro ensine lá a dizer daddy que é rápido" :) 

Mamā e Dada contentes com os passos da linguagem. 
É incrível o desenvolvimento da comunicaçāo.  

segunda-feira, 9 de março de 2015

Este Eterno Dia de Sol



Passou um ano. Cantar pela primeira vez os parabéns. 
Arrepios de amor. Sensaçāo de calor. 
Foi dia de festa, sim. Uma data querida, também. 
Cantaram as nossas almas. Sim, todos, todas. 
As que estavam e as que nāo estāo mais. 
Muitas felicidades, toda a do mundo. 
Muitos anos de vida, anos inteiros, cheios, repletos de alegria. 
Para a menina Amália todas as salvas de palmas.
Será sempre um eterno dia de sol, este e todos os dias 07 de Março.  




















Para trás ficou o mês inteiro de Fevereiro. 
Mês que tanto trouxe. Mês que tanto Levou.
Dias de trabalho intenso. Dias de perda que lembro.
Dias que o amor somou e eu acrescento. 
Dias que o amor perdeu e Fevereiro passou.
Como quem lava a alma e sabe
 O mundo vive neste contraste da despedida com o futuro eterno à chegada.

Amália, meu amor, acredito que a vóvó Fernanda também esteve na tua primeira festa 
pois em nós permanecem as felizes recordações de tudo o que viveu.  




















sábado, 7 de março de 2015

Um Ano



Há um ano nascias.
A vida deixou de ser como era para passar a ser melhor ainda. 
Que hoje seja a primeira celebração e que se sigam infinitas. 

Parabéns, minha pequenina.

A meio da noite a vida crescia. A barriga apertava e eu māe iniciava-me onde desconhecia.
A ansiedade palpitava nessa noite calma, nessa noite nova de um enorme amor que nascia.
Nove meses de te querer. Anos de sonho sobre quando te receber.
Foi esta a hora perfeita para te ter.

És tu o maior amor da nossa vida.






sexta-feira, 6 de março de 2015

No Amor Só o Coraçāo Bate


Temos de zelar pelo melhor para os nossos filhos. Estar atentos ao seu crescimento, ao seu desenvolvimento. À sua integraçāo e educaçāo. Amamos os nossos filhos inatamente. 
Nāo o sentimos como obrigaçāo. Acontece. Amamos ponto.
Habitualmente é assim. Assim costuma acontecer. 
Mas nem sempre. 

É por isso que hoje escrevo. 
Quero muito que a minha filha viva sempre em paz. Na tranquilidade do amor. Na paz de um lar.
Um dia, a minha filha crescerá e já nāo estará debaixo do calor da minha asa. Da nossa asa.
Por isso acredito que é preciso falar ao longo da sua educaçāo para aprender por si a estar alerta.
Quando achamos que apenas acontece aos outros, na verdade nāo há nada que nos garanta isso.

Porque pode surgir a violência? O que a define? O que se faz? 
Surge quando menos se espera e de quem menos se espera.
Define-se por se passar a sentir ameaçado, com medo, dentro da própria casa por agressões físicas.

Há casas que nāo sāo lares. Há casas onde o amor nāo existe, por onde não passou, escapou e fingiu passar. 
Casas onde vivem, mulheres, māes e/ou filhas, em silêncio. 
Por medo, por vergonha, por terror, por falta de esperança. 
Sem presente. Achando-se sem futuro. 
O futuro existe. Existe sempre. 
Mesmo quando ao fundo de um túnel escuro se veja apenas um muro.
Para o futuro existir melhor, o passo pode passar por falar. Falar pode ajudar a saltar o muro.
Com quem? Com quem pode ajudar. 

Mesmo quando pensa que nāo tem a quem contar. 
A linha SOS mulher (808 200 175) é uma linha com profissionais especializados para dar apoio a mulheres vitimas de violência doméstica. 
Seja menina, seja mulher, telefonar pode mudar o presente e encher de futuro a vida.

Se nāo é vitima de violência é nesta altura do texto que começa a revirar os olhos. 
Nāo revire. Também é para si o que escrevo.
É obrigaçāo de todos, saber o que fazer para ajudarmos. 
Se tem conhecimento de algum caso: denuncie. 
O silêncio é o alimento de qualquer abuso. 
Nāo alimente o silêncio. Nāo proteja agressores. 
Dê a māo a quem precisa. Dê a sua, a minha e a de todos. 

Tenho a sorte, e sim repito, a sorte de viver numa família de amor. Onde sou amada e muito protegida. Guardada e cuidada. 
É isso que o amor faz: Cuida.  
Digo sorte porque é isso mesmo. Pode acontecer a todos. Ninguém escolhe ser agredido. Acontece. Pode acontecer.
Sāo inúmeras as famílias onde o amor nāo habita, nunca habitou e onde outro sentimento enganador se mascarou de bom. 
Criou realidades com base numa mentira. Naquela ilusāo.
O que nos parece óbvio pode deixar de ser quando há casos em que se acredita que é o amor em excesso que faz cegar. O amor em excesso? Nāo existe tal coisa. Amar nāo é maltratar. Em contexto nenhum. O amor cuida. Olha por nós.  

Por amor à causa em defesa de todas as vítimas, pelo maior respeito à plataforma Maria Capaz e também pelo amor que tenho à minha profissāo, criei e ajudei a lançar a campanha 'NO AMOR SÓ O CORAÇĀO BATE".



Acredito de corpo e alma que todos, mas mesmo todos, devemos ter uma parte activa na luta pelos direitos humanos. 
Este deve ser o mote base para todos, para todas as pessoas, em todos os lugares:

Artigo 1° da Declaraçāo Universal dos Direitos Humanos: 

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade." 

E é importante lembrar isto. Mil vezes. Todas as vezes. 
Mesmo que olhos em frente a nós se revirem de tédio esta conversa. Mesmo que em massa me caiam em cima porque sāo chocantes ou violentas as imagens que fiz. Mesmo que muitos no seu direito gostem de verde, azul ou amarelo. Mesmo que… 

A violência existe. 
Passe a palavra. Partilhe este video. Fale sobre a violência. Nāo pode imaginar nem onde, nem quando, nem quem este número vai ajudar. Na possibilidade de ajudar - partilhe. Mal nāo faz.
Mulheres, meninas, adolescentes, crianças, homens por vezes, sāo vítimas de maus tratos sob as mais diversas formas. 
Há ainda um enorme caminho a desbravar em vários campos mas este é um começo. 
Se chegou a esta parte deste texto:
Obrigada

quarta-feira, 4 de março de 2015

A Minha Avó

A minha avó desenhada pelo meu pai 


Em Junho a memória falhava.
Em Julho, comida passou a ser passado.
Em Fevereiro, deixou para trás a vida e o tempo contado.

Mesmo avisando que ia partir nāo passou a ser melhor essa ideia de te ver ir.
A vida disse adeus à minha avó.

Antes de nascer ninguém nos diz como esta vida vai ser. Como vai doer.
Nascemos. Vivemos... Morremos.
Na falta das palavras certas lembro hoje o que ainda em Junho dizia de coraçāo apertado:

"A vovó Fernanda foi sempre como o doce mais açucarado e mais belo da pastelaria. Um doce. A alegria. A simpatia. Uma beleza. 
O seu rosto iluminava-se sempre que me via pela porta.
Mesmo doente, ainda hoje tenho a sorte de merecer o seu sorriso rasgado cada vez que apareço.
Na porta. Pela porta. O sorriso.
Apareço pouco, menos do que gostaria. Sempre que possível.
A vida baralha-nos o tempo. É difícil. A doença troca-nos as voltas e magoa.
Somos uma família com sorte. Têm sido 94 anos de beleza.
A dor tem começado a crescer como crescer tem custado a doer.
É a doença. Levou-lhe a memória. Levou a minha vovó Fernanda como me lembro. Há anos.
Faço de tudo para que a sua ausência de memória nāo faça esquecer a minha.
Guardo-a como a conheço: um doce... O melhor da pastelaria.
Os seus cabelos brancos lembram sempre as histórias de ir dormir, os vestidos cosidos à māo e os  bordados tāo perfeitamente trabalhados. É maravilhosa a minha avó.
Hoje, longe da memória de outros tempos agarra ainda assim na māo da minha filha como se fosse a minha. Sim, como se fosse a minha. A māo.
Olha-a nos olhos, tenta segurá-la todo o tempo. Ama-a instintivamente ao colo.
Diz-lhe: Ana Rita, Ana Rita.
-Avó... Minha avó... É  a minha filha, chama-se Amália.
Os segundos passam e diz: Catarina, Catarina... 
Repete sucessivamente o nome das suas netas. Eu repito: Avó, a minha avó...

Levaram parte da minha avó...
Tāo distante e tāo perto.
O amor e a ternura com que olha a Amália fazem valer a vida que tantas vezes já nāo tem.
Pode baralhar, confundir, nāo lembrar... Mas será sempre a mais-perfeita-avó.
Amália... Gostava tanto que um dia recordasses como eu a tua bisavó.
A minha querida avó que a memória levou.
Mais que os parabéns, avó, quero muito dizer-te que o amor ficou. A memória assim decidiu e deixou."  

Hoje, agora em 2015… De coraçāo esmagado.
Já nāo faz anos a minha avó.
Nāo mais posso afirmar que levaram parte da minha avó…

Deixou de se baralhar… Deixou de se confundir… De nāo se lembrar…

Foi maravilhosa a minha avó.
E será sempre a mais-perfeita-avó.
Será sempre o mais-perfeito-doce.
A mais-bonita-simpatia.
A mais-bela-alegria.

Amália… Por isto hoje repito:

Gostava tanto que um dia recordasses como eu a tua bisavó.

Avó, hoje, agora… Quero muito repetir-te que o amor ficou. 
A memória, a tua, partiu. 
A vida, a tua, desistiu… 
Mas o amor, o nosso, esse ficou.  
Ficou.