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terça-feira, 24 de junho de 2014

94 Anos


Hoje faz 94 anos a minha querida avó. Tenho sorte. Fui neta de 3 avós. Sim... 3. Uma história linda que agora nāo vou contar. Duas continuam a partilhar connosco os dias, a vida. 

Hoje faz 94 anos a minha querida avó. A vovó Fernanda foi sempre como o doce mais açucarado e mais belo da pastelaria. Um doce. A alegria. A simpatia. Uma beleza. 
O seu rosto iluminava-se sempre que me via pela porta. 
Mesmo doente, ainda hoje tenho a sorte de merecer o seu sorriso rasgado cada vez que apareço. 
Na porta. Pela porta. O sorriso.
Apareço pouco, menos do que gostaria. Sempre que possível. 
A vida baralha-nos o tempo. É difícil. A doença troca-nos as voltas e magoa. 
Somos uma família com sorte. Têm sido 94 anos de beleza. 
A dor tem começado a crescer como crescer tem custado a doer. 
É a doença. Levou-lhe a memória. Levou a minha vovó Fernanda como me lembro. Há anos. 
Faço de tudo para que a sua ausência de memória nāo faça esquecer a minha. 
Guardo-a como a conheço: um doce... O melhor da pastelaria. 

Os seus cabelos brancos lembram sempre as histórias de ir dormir, os vestidos cosidos à māo e os  bordados tāo perfeitamente trabalhados. É maravilhosa a minha avó. 

Hoje, longe da memória de outros tempos agarra ainda assim na māo da minha filha como se fosse a minha. Sim, como se fosse a minha. A māo.
Olha-a nos olhos, tenta segurá-la todo o tempo. Ama-a instintivamente ao colo. 
Diz-lhe: Ana Rita, Ana Rita. 
-Avó... Minha avó... É  a minha filha, chama-se Amália. 
Os segundos passam e diz: Catarina, Catarina... 
Repete sucessivamente o nome das suas netas. 
Eu repito: Avó, a minha avó...
Levaram parte da minha avó...
Tāo distante e tāo perto. 
O amor e a ternura com que olha a Amália fazem valer a vida que tantas vezes já nāo tem. 
Pode baralhar, confundir, nāo lembrar... Mas será sempre a mais-perfeita-avó. 

Amália... Gostava tanto que um dia recordasses como eu a tua bisavó.
A minha querida avó que a memória levou. 
Mais que os parabéns, avó, quero muito dizer-te que o amor ficou. A memória assim decidiu e deixou. 


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